Naquela tardinha, eu estava visitando a D. Ana, uma senhora idosa simpaticíssima, de um bom humor e otimismo cativantes, e que adorava um “forrozinho“.
Com quase cem anos de idade, ela ainda fazia crochê manual, e seu trabalho era digno dos melhores artesãos da área de trabalhos manuais de crochetaria.
Como descontração e sinal de admiração, eu tinha pedido para que me ensinasse a fazer uns pontinhos básicos, na linda toalha de mesa rendada que ela estava tecendo, naquele exato momento.
Ela sorria muito e delicadamente dizia:
-Tá um pouco lento, mas tá ficando bom!!
Ah!! quanta generosidade!! Mas o momento era de descontração, mesmo!!
Foi aí que chegou um grupo de religiosos, de uma determinada igreja tradicional local, para uma visita de cortesia e orações. Todos muito simpáticos, educados e atenciosos.
Foi-me solicitado gentilmente, que permanecesse na casa, para acompanhar as pregações e orações comunitárias, que tinham sido preparadas para aquele momento. O que aceitei de bom grado!!
Passei todo o material de crochê que estava comigo para as mãos da D. Ana, com meus sinceros agradecimentos pela aula de artes artesanais eventual, e postei-me, respeitosamente, para ouvir o que o simpático grupo havia preparado.
O líder contrito, imediatamente, leu um trecho da Bíblia e passou a discorrer com sofisticado palavreado, sobre o tema lido. Falou…falou…falou…falou…!!! até o momento em que D. Ana interrompeu abruptamente o digno preletor, dizendo:
-Gente, prestem atenção como os passarinhos estão cantando bonito , lá fora!!!
Se para o bom entendedor, um pingo é letra, creio que tod@s perceberam que D. Ana estava
“se lixando” para a pregação em curso.
Eu fiquei muito aliviado, porque também não estava aguentando mais aquela “xaropada“, e não via a hora de ela ser encerrada.
Confesso que, também, minha atenção estava voltada para a passarinhada lá fora, que saltitava e cantava alegremente, anunciando o reino de Deus à maneira deles, sem necessidade da semântica verborrágica de palavras difíceis, politicamente escolhidas para agradar a situação e/ou ameaçar a oposição.
Quando, finalmente, a tortura falada foi encerrada, D. Ana arrematou:
-Agora quero tomar café com quitandas!!
Ou seja, por hoje já chega de blá-blá-blá!!! Já encheu o “- – – -“.
Na verdade, ela não estava nem aí para as ameaças do fogo eterno que tinha sido anunciado naquele evento, e eu também não!!
Conclusão:
“Deixem as crianças virem a mim. Não lhes proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas. Eu garanto a vocês: quem não receber, como criança, o Reino de Deus, nunca entrará nele. Então, Jesus abraçou as crianças e abençoou-as, pondo a mão sobre elas”. Mc 10,13-16
Respeitosamente, creio que o Reino de Deus é das crianças, sim!!! mas também dos adultos que não deixam morrer as crianças que existem dentro deles. Creio ser o caso de D. Ana.
Quanto às pregações e pregadores, sugiro que revejam o post:
“Simplesmente Mané”
https://www.agazetadelavras.com.br/simplesmente-mane/
No próximo post, continuarei escrevendo sobre mais gente simples, que encantaram minha vida.
Vem aí: D. Barbina e Sô Bermiro.
Aguardem!!!
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