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Dialogando com meu cavalo


Gaúcho, este é o nome do meu cavalo. Não tem raça definida. É castanho brilhoso, tendendo para alazão. Identifico-o como cavalo alazão sim, se não for, não importa, para mim é, e pronto!!!
Quem me apresentou ao cavalo, há quase dez anos atrás, foi o Prof. Chico do DMV/UFLA. Que feliz encontro, fiquei muito honrado. Gratidão, Prof. Chico!!!
Um companheirão, um amigão honesto, sincero, leal e tem uma paciência…!! Mas, trato bem dele!!!
Aos sábado pela manhã, já está prontinho para o passeio semanal. Raspado, escovado, alimentado e selado. O Airton, meu ajudante, é muito cuidadoso e já preparou de tudo.                                                  Eia, ôa cavalinho!!! “é nóis na fita…

Sou apaixonado por cavalgadas, mas creio que para mim, andar a cavalo fica melhor. Tem sido assim, desde criança. Andar a cavalo.
Quando eu tinha 10 anos de idade e cuidava de uma pequena gleba de terra de meu pai, em Porto Ferreira/SP, já possuía uma éguinha castanha rústica chamada Boneca. Cavalgava “em pelo” direto e reto, o tempo todo. Nenhum arreio, nenhum cabresto. Nadinha, nadinha de equipamentos, tais como, mantas, correias, freio ou bridão. Era no puro pelo do animal mesmo, com uma corda tosca laçada no pescoço da égua, de onde se puxava uma focinheira com a própria corda do laço, e pronto, este era o arreamento possível para aquele momento. Porém, suficiente.

A bunda sempre esfolada, evidentemente!!! Na hora do banho, ardiaaaaaa….!!!!!! Mas confesso que depois de muitos anos, criou-se calo. Alívio!!! Mas de vez em quando a bunda esfolava de novo, e até a próxima cicatrização, foram anos, nessa toada.
Como era próprio da idade, irresponsavelmente, montava num pulo só. Às vezes, saltava o dorso do animal, para cair em pé do outro lado, sem tocar o lombo do bicho. Sim, sim, muitos tombos…
Outras vezes, também ficava em pé sobre ele em movimento, para fazer gracinhas e desafiar algum amigo que eventualmente aparecia por aquelas bandas. Mais tombos, porém, nenhum osso quebrado, felizmente!!!

Bom mesmo era galopar livremente pelas verdejantes e floridas campinas do Vale Encantado (nome da região rural onde situava-se a gleba).
Informo que meus familiares, jamais souberam destas aventuras infanto-juvenis. Todavia, e a bem da verdade, creio que meu anjo-da guarda sabia de tudo, sim. Ah!! só pode!!! Gratidão pelo plantão permanente, estimado anjo!!! Desculpe-me qualquer coisa, hem?! No dia do juízo espero poder agradecer-lhe pessoalmente, se eu não for parar o inferno, evidentemente. Neste caso, será que poderei enviar um Whatsapp informando a temperatura ambiente??!! Aguardemos!!!
O cavalo, no caso, a égua, tenho certeza de que irá para o céu!! Merece!!

Bem, aqui em Ijaci, ando a cavalo todo equipado, com arreio e toda traia adequada. Há muito tempo parei de galopar, porque a coluna chiou e não houve jeito. Ou eu parava de galopar ou não cavalgaria mais. Temeroso, tomei a decisão certa!!! Mas, às vezes, dou umas galopadinhas despretenciosas, que continuam emocionantes.
É um cavalo tão educado, que sabe se posicionar direitinho, para eu abrir e/ou fechar porteiras no caminho, mesmo estando montado. Ele percebe se a porteira vai abrir para frente ou para trás, para esquerda ou para direita. Depois para fechar, é mesma coisa. Show de bola, ou melhor, de cavalo!!

Cavalgar em direção ao sol nascente, contemplar as belezas naturais dos arredores, ouvir a sinfonia dos ventos e dos pássaros, reconhecer cada árvore do caminho, saudar as floradas dos ipês, os animais silvestres, enfim, celebrar na biodiversidade, a vida em liberdade.
Na maioria das vezes, cavalgo sozinho. Eventualmente, Zé Correia, meu amigo de longa data, me faz companhia. Ô sujeito bom, sô!! Muito bom papo. Assuntos sempre ligados ao dia a dia do campo, da roça. Conversa muito agradável!!!

Quando estou sozinho, costumo ir para o alto do morro do velho terreiro de café, de onde tenho uma ampla visão de toda a região, especialmente adequada para cantar o hino “Grandioso És Tu”, em que na segunda estrofe anuncia:

Quando atravesso bosques e florestas,
Ouvindo, à brisa, pássaros cantar,
Ou vejo, além, montanhas altaneiras
O teu poder em, glória proclamar,
Refrão:
Canta minh’alma então a ti, senhor
Grandioso és tu, grandioso és tu
Canta minh’alma então a ti, senhor
Grandioso és tu, grandioso és tu

E é nessa hora, que costumo conversar com meu cavalo… Ele presta uma atenção…!!!! Não reclama de nada, nadinha!!! Cavalinho bom papo!!! Tô vendo a hora em que cantará o hino comigo, afinal, ouve-o todo os sábados. Já deve ter decorado a letra e a música. Penso que será em si bemol menor, para baixo tuba…
Não “tô lôco” não!!. E para provar, vou conectar esta crônica equídea com a jumenta falante de Balaão, narrado em Num. 22-21(30):

Jumenta:-“O que é que te fiz para que me espanques já por três vezes?”
Balaão:-“Porque tens estado a brincar comigo!” gritou-lhe Balaão.
“Só queria ter aqui uma espada, que te matava já.”
Jumenta:-“Eu sou a tua jumenta, que tens montado sempre, até hoje.
“Alguma vez fiz isto contigo anteriormente?”, perguntou a jumenta.
Balaão:-“Não!”, admitiu ele.

Não troco meu cavalo amigo por essa jumentinha linguaruda, nem com muito dinheiro de volta. Não troco mesmo.
Antes, porém, darei um coice inicial em quem achar que é tudo uma grande e cavalar burrice existencial, fazendo uma conexão asinina com os cavalos livres e com os cavalos domésticos, descritos por Rubem Alves, assim:

“Cavalos selvagens correm soltos, em bando, parece uma dança, parecem voar sob o chão…tão livres…tão instintivos…tão primitivos…
Cavalos domésticos conversam sobre cabrestos, arreios, carroças, cavaleiros, carroceiros…”.

Então, na verdade, prezad@s leitor@s, antes de emitirem vossas respeitáveis opiniões hipodrômicas sobre esta crônica equídea, vocês deverão se identificar com os cavalos selvagens ou com os cavalos domésticos.
Fale a verdade, você tem sido qual cavalo??!! Ou, gostaria de ser qual??!!
Eu, como cavalo selvagem, converso sistematicamente com meu amigo equídeo, porque, na verdade, tem alma livre e selvagem também, como a minha. Então, nós nos entendemos perfeitamente.

Para continuarmos, sugiro que leiam os episódios equestres de Balaão e Rubem Alves, para voltarmos a conversar equideolorosamente na próxima cavalgada literária socioambientalmente sustentável.
Falou alto, a jumenta de Balaão. Falou baixinho, o meu cavalo Gaúcho.
Tem cavalo doméstico que não acredita!!!
Tem cavalo selvagem que responde.
Aqui vale a pena lembrar Nietzsche:
“E os que dançavam foram considerados loucos por aqueles que não ouviam a música”.

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