Sua origem…
A origem do Rosário é muito antiga, pois conta-se que os monges anacoretas usavam pedrinhas para contar o número das orações vocais. Desta forma, nos conventos medievais, os irmãos leigos dispensados da recitação do Saltério (pela pouca familiaridade com o latim), completavam suas práticas de piedade com a recitação de Pai-Nossos e, para a contagem, o Doutor da Igreja São Beda, o Venerável (séc. VII-VIII), havia sugerido a adoção de vários grãos enfiados em um barbante.
Na história também encontramos Maria que apareceu a São Domingos e indicou-lhe o Rosário como potente arma para a conversão: “Quero que saiba que, a principal peça de combate, tem sido sempre o Saltério Angélico (Rosário) que é a pedra fundamental do Novo Testamento. Assim quero que alcances estas almas endurecidas e as conquiste para Deus, com a oração do meu Saltério”.
Igreja do Rosário de Lavras
A menção mais antiga sobre a cidade mineira de Lavras faz referência a uma cachoeira onde os bandeirantes tinham o costume de pernoitar, em suas expedições do final do século XVII. Certa vez, nesse lugar – que era chamado ‘Pouso do Funil’ – um bandeirante chamado Romualdo Pedroso Lima teria sido levado pela correnteza, e, após ser dado como morto, foi encontrado vivo pelos seus pares, alguns dias depois. Em agradecimento, o bandeirante teria feito sobre uma colina um oratório improvisado, deixando ali uma imagem de Sant’Ana, Mãe da Virgem Maria e Avó de Jesus.
A história também narra que, por volta de 1720, chegou no local um grupo de desbravadores e sertanistas oriundos da região de Sant’Ana do Parnaíba, em São Paulo. Ali fundaram o Arraial dos Campos de Sant’Ana das Lavras do Funil, cuja capela foi instituída canonicamente em 1751, como filial da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Carrancas (uma freguesia situada algumas léguas ao sudeste).
“Dom Frei Manuel da Cruz, Bispo, etc. Fazemos saber que, atendendo nós ao que por sua petição retro nos enviaram a dizer os moradores das Lavras do Funil freguesia de Carrancas, havemos por bem lhes conceder licença pela presente nossa provisão para que possam erigir uma Capela com a invocação da Senhora Santa Ana no campo das Lavras do Funil da dita freguesia de Carrancas. Com a cláusula de que assinarão termo de sujeição na nossa Câmara Episcopal, dentro de três meses, em o qual se sujeitarão à nossa proteção e dos nossos sucessores, a qual será fabricada de materiais perduráveis com boa proporção, e arquitetura e ao depois de erecta, e decentemente paramentada com os ornamentos das quatro cores que mandam as rubricas do Missal e uso da Igreja, e mais cousas necessárias, e feito patrimônio suficiente recorrerão a Nós para a mandarmos visitar, e benzer na forma do Ritual Romano, e nela se poder celebrar e outrossim terão um livro em que terão encadernados todos os documentos pertencentes à mesma Capela, se será registrada esta no livro do Registro Geral.
Dada e passada nesta cidade de Mariana sob o nosso sinal chancelaria e selo de nossas armas, aos 18 de setembro de mil setecentos e cincoenta e um anos. E eu, cônego Vicente Gonçalves Jorge de Almeida, secretário e escrivão da Câmara Eclesiástica, a subscrevi”. Rubricas de S. Excia. Revma. Selo etc. (FONTES: LEFORT, Mons. J. do Patrocínio. Anuário Eclesiástico da Diocese de Campanha – 1944 a 1948. CICARRELI, E. Lavras, seu povo e sua história. Súmula da História de Lavras. Jornal “Lavras”, 09/15 de 10/1995, p. 3-5.10-11
No ano de 1754 foi realizado o primeiro batizado no templo, e também o primeiro casamento, onde foi abençoada a união dos escravos Manuel Banguela e Felícia Creoula.
Há a menção de que os primeiros moradores do local, além de buscarem ouro e cultivar a terra, visavam também a abrir novas rotas e caminhos até a região das ‘Minas dos Goiases’. Coincidência ou não, o exterior da igreja de Lavras é bastante parecido com o das igrejas setecentistas do oeste mineiro e do cerrado goiano, onde a característica principal são as fachadas largas e a ausência de torres.
Vale lembrar que, apesar do nome ‘Lavras do Funil’ fazer alusão à lavra de ouro, a atividade que realmente predominou ali foi a agricultura e pecuária. Em 1760, a população do arraial ultrapassou a de Carrancas, motivo pelo qual a sede da freguesia foi trazida para a igreja de Sant’Ana de Lavras. E em 1813 as duas localidades foram desmembradas canonicamente, ficando cada uma com a sede de uma freguesia (ou paróquia, nos termos atuais). Nessa época (início do século XIX) a igreja passou por modificações, financiadas sobretudo pela irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, e supervisionadas pelo vigário Francisco Severo Malaquias. Nessa ocasião foram acrescentadas as galerias laterais.
Em 1864 a vila se tornou município, ocasião em que o nome ‘Lavras do Funil’ foi abreviado para ser apenas ‘Lavras’. Em 1904, a população da cidade construiu uma nova igreja matriz dedicada a Sant’Ana, e a igreja primitiva passou a ser conhecida como Igreja de Nossa Senhora Rosário, nome que conserva até os dias atuais. Nos anos 1940 a igreja quase chegou a ser demolida, fato impedido pela população e pelo prof. José Luiz de Mesquita, zelador da igreja.
Atualmente essa igreja preserva o seu aspecto original, onde o exterior simples contrasta com um interior refinado, onde se destacam os altares setecentistas policromados e a pintura em perspectiva no teto da capela mor.
Galeria de imagens do interior da Igreja.