Texto: Roberta Camargo, Juca Guimarães e Nataly Simões
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, as notícias que gostaríamos de dar são apenas as que reforçam a potencialidade da comunidade negra. Mas como ser negro no Brasil é sinônimo de não ter um dia de paz, nos deparamos ainda na madrugada com o assassinato brutal de João Alberto Silveira, de 40 anos, espancado até a morte por dois homens brancos: um segurança da rede de supermercados Carrefour e um policial militar.
As imagens divulgadas nas redes sociais mostram quando João é atacado pelos dois homens e recebe uma série de socos no rosto. Imobilizada e tentando manter o equilíbrio, a vítima é atingida por chutes nas costas, braços, pernas e por mais uma sequência de socos. Uma mulher de blusa branca e crachá grava a cena em um aparelho celular a poucos passos de distância.
Esta não é a primeira vez que pessoas negras são vítimas de racismo dentro de supermercados. Aliás, ser perseguido como se a sua pele representasse um perigo é algo comum a maioria de nós. O Carrefour, também, parece ter a desumanidade como uma política interna. Há poucos meses, o corpo de um funcionário que morreu de mal súbito durante o expediente foi coberto com guarda-sóis verdes enquanto o supermercado permanecia aberto.
Desta vez, a brutalidade aconteceu no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Os dois criminosos foram presos em flagrante e devem responder por homicídio qualificado. Segundo o Código Penal, trata-se do ato de matar uma pessoa em circunstâncias que não ampliem a magnitude desse ato extremo. A Brigada Militar afirma que o crime aconteceu depois de uma confusão entre a vítima, indefesa, e um funcionário da loja, que acionou os seguranças.
A gestão de crise do Carrefour correu para emitir uma nota na qual diz que “nenhum tipo de violência e intolerância é admissível” e que “adotará medidas para responsabilizar os envolvidos no ato criminoso”. Mais uma vez, a empresa não reconhece que sua política de segurança é racista e desumanizadora.
Vivemos um momento em que as empresas têm dado mais atenção para a questão racial até para melhorar a própria imagem. O próprio Carrefour havia anunciado o lançamento de um manifesto pela diversidade, com um material que seria fixado nas lojas e em centros de distribuição da rede sobre a inclusão de pessoas de diferentes raças, identidades de gênero, orientações sexuais e crenças.
São programas e mais programas para incentivar a diversidade entre os profissionais. E a segurança de quem mantém os lucros dessas empresas cada vez maior, que são os clientes? O comunicado só reforça que a carne mais barata do Carrefour é a carne negra.
Este é mais um 20 de novembro em que precisamos buscar forças para seguir em frente em uma sociedade onde nossa cor de pele nos faz alvos. Sociedade em que somos sete a cada dez vítimas de homicídios, oito a cada dez mortos em intervenções policiais. Meu maior desejo é, um dia, poder falar apenas sobre a potencialidade e resistência dos nossos ancestrais que nos trouxeram até aqui, por João Alberto e tantos outros que não mais poderão.