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I – D. Irma e o voo libertário do magnífico pássaro sem asas

Primeira parte

Prezad@s tod@s, quando escrevi a crônica: 

“A necessidade faz o sapo pular (Segunda parte)”.
https://www.agazetadelavras.com.br/ii-a-necessidade-faz-o-sapo-pular-segunda-parte/
citei, carinhosamente, meu tio Irineu, recordando alguns fatos curiosos de suas habilidades amadoras como pedreiro e eletricista, em algumas de suas peripécias domésticas. 

“A título de curiosidade sobre o tio Irineu (Neu para os familiares), ele era uma pessoa maravilhosa. Tinha o coração muito maior que a razão.
Respeitado”pai-de-santono candomblé ferreirense, nas horas vagas, gostava de atuar como pedreiro “meia colher” e “eletricista doméstico“. 

Porém, como pedreiro, não usava esquadro, nível e prumo.
Quem se lembrar da “torre inclinada de Piza, pode imaginar como eram suas construções.
Como eletricista, quase incendiou sua casa, durante uma reforma da rede elétrica, quando fechou um curto-circuito descomunal, ao unir eletricamente, a fase com o neutro, numa tomada benjamim!!

Minha avó materna, Vó Benedita, ao contar o acidente para meu pai, detalhou:
“João, quando o Neu ligou o benjamim, deu um estouro tão forte que o fogo corria pelos fios de todas as instalações da casa!!”.
Informo-lhes que, toda a instalação elétrica da casa teve de ser substituída, evidentemente, por um eletricista de ofício.

 Foi justamente essa crônica, que me inspirou, posteriormente, a fazer justa homenagem póstuma, a uma saudosa funcionária do DEA(DEG)/UFLA chamada Neuza.
“Uma funcionária chamada Neuza”.
https://www.agazetadelavras.com.br/uma-funcionaria-chamada-neuza/ 

 

E de uns tempo para cá, tenho me recordado muito de outras pessoas que já se foram, e que principalmente, pela simplicidade e humildade, ensinaram-me grandes lições de vida.
D. Irma, lá de São Carlos/SP, foi uma destas pessoas.

Este desejo de escrever sobre ela ganhou força, quando vi num programa de televisão, nesta semana, alguém citando Rubem Alves, e um trecho de sua monumental obra literária, da qual e de quem sou “fã de carteirinha“, juntamente com Paulo Freire e Fernando Pessoa. 

A citação foi a seguinte:
“Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas.
Para voar é preciso amar o vazio.
Porque o voo só acontece se houver o vazio.
O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas.
Os homens querem voar, mas temem o vazio.
Não podem viver sem certezas.
Por isso trocam o voo por gaiolas.
As gaiolas são o lugar onde as certezas moram”.
(Rubem Alves). 

Sobre isso, coincidentemente, o próprio Rubem Alves cita Fernando Pessoa:
“Ah, quanta vez, na hora suave
Em que não me esqueço,
Vejo passar o voo de ave
E me entristeço!
 

Por que é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Por que vai sob o céu aberto
Sem um desvio?
 

Por que ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?

Sei que me invade
Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia

Meu coração, e entorna sobre
Minh’alma alheia
Um desejo, não de ser ave,
Mas de poder”.
(Fernando Pessoa) 

E eu resolvi arrematar, incluindo Paulo Freire:
“Mudar a linguagem faz parte do processo de mudar o mundo”.
(Paulo Freire). 

Sim, sim, tudo isso para falar sobre D. Irma.
Mas, como assim??!!

Primeiramente informo-lhes que, pretendo continuar discípulo de Paulo Freire, e continuar praticando uma linguagem diferente, como fiz em todas as minhas noventa crônicas anteriores, e assim, mudar o mundo, começando pela minha própria mudança interior. 

Em seguida, informo-lhes que, a personagem desta crônica, D. Irma, foi um pássaro maravilhoso, que a vida engaiolou compulsoriamente em uma cadeira-de-rodas, tipo poltrona de madeira tosca, via derrame cerebral violento e irreversível, em que constatei as correlações entre gaiola, voo libertário, e a sabedoria de minha avó Delmira, quando me ensinou:
A morte por ser desgraça, não deixa de ser ventura, pois corta pela raiz, os males que a vida não cura“.

 E, quando terminar esta matéria, vou perguntar de surpresa aos leitor@s, sem ninguém esperar, o que cada um está fazendo com as respectivas gaiolas, possibilidades de voar, e se querem mesmo voar um voo libertário. Não contem para ninguém, será surpresa!! 

Mas, como contei somente para você, então, por favor, já vai pensando aí, quais são seus sonhos, como é sua gaiola, suas possibilidades de voar, ousadamente, mas, principalmente, se quer voar mesmo, ou ficar comodamente, vivendo na sua gaiola “vendo a banda passar”. 

Em 1971, fui morar em São Carlos/SP, para fazer cursinho e me preparar para o vestibular do disputadíssimo MAPOFEI/72. Para baratear os custos de permanência, fiz parte de uma república de estudantes, à rua Dr. Carlos Botelho, bem próxima à EESC_USP. 

Nos fundos da república, havia um muro, cuja pequena altura, permitia-me ver do outro lado, uma casinha muito simples de três cômodos, com um banheiro bem rústico do lado de fora, ladeado por um tanque comum de lavar roupas, protegido por um telhadinho, tipo puxadinho, mais simples ainda. 

Logo, logo, chamou-me atenção, o absoluto silêncio que aquele vizinho propiciava. Coisa que as repúblicas de estudantes atuais desconhecem, completamente e deseducadamente. Infelizmente!!
De manhã, bem cedinho, percebia-se algum movimento bem discreto. Depois, o dia todo, silêncio total. Ao anoitecer, algumas luzes acesas e alguns sussurros inaudíveis. 

Um dia, a bola que eu tinha o hábito de chutar contra o muro, para distrair-me, enquanto aguardava a fila do banho, ou mesmo após o meu banho, passou por cima do muro e caiu bem em frente a porta da casa do vizinho, ainda, completamente, desconhecido. 

Eu chamei pelo tradicional “ô de casa!!!” várias vezes e ninguém respondeu…
Mas havia gente lá, porque, embora a porta estivesse fechada, as três janelinhas dos cômodos estavam abertas, e havia roupas masculinas no varal, em frente ao tanque de lavar roupas. 

Recuperar a bola era preciso…Resolvi dar a volta pela esquina da nossa rua e bater palmas no portão da casa. Nada, nenhuma resposta. Que estranho!! Vou abrir o portão e entrar, afinal jamais ouvi latido de cachorro ali. 

E entrei de mansinho…ô de casa!! ô de casa!!…dá licença!!…tem gente aí?!…dá licença!!…sou o vizinho de cima!!…Silêncio…!! Bati, levemente, na única porta que achei e que seria a porta da sala, porque era do cômodo do meio. 

Aí sim!! ouvi um som bem baixinho, parecido com “empurre”, mas dito de maneira tão enrolada, que apenas me pareceu isso, porém, mesmo intrigado se era isso mesmo, empurrei a porta e abri. 

Surpresa. Surpresa total!!!! 

Continua e encerra no próximo post. Aguardem. 

(Acessem as crônicas anteriores, clicando na franja “Blogs e Colunas“, acima do título da matéria atual. Em seguida, pode-se clicar na franja“Próxima página>“, no rodapé da página aberta, para continuar acessando-se mais crônicas anteriores).

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