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II-Meu pai comprou um terreno. Nascia um agricultor familiar socioambientalista apaixonado e voluntário  (Segunda parte)

Recapitulando rapidamente, o exposto na “Primeira parte” desta narrativa de caráter saudosista e socioambientalmente sustentável, lembro-lhes, que, com o envolvimento do caule das plantas com chumaços de cabelos humanos cortados, consegui impedir a subida das formigas saúvas (e demais insetos) para a copa das mudas cítricas, evitando-se, consequentemente, seu corte. 

Aconteceu, que, uma semana após esta prática protetiva, observamos que os chumaços estavam se petrificando, devido à deposição de poeira provocada pelos ventos constantes da região. As formigas perceberam primeiro que nós, e voltaram a carga total, ultrapassado os chumaços facilmente, arrasando as plantinhas. 

Tive até a sensação de que as saúvas olhavam para mim, de cima dos chumaços endurecidos, e batiam as duas anteninhas dianteiras com o acintoso gesto de “top top“.

Rá rá, ru ru, você, oh!! “sifus“. E pareciam oferecer-me uma música clássica: “Opus 6″. 

Fiquei desolado, porque percebi imediatamente que, era inviável trocar os chumaços semanalmente. Se fosse apenas meia dúzia de laranjeiras e limoeiros, até que não seria problema, mas, para 100 mudas, seria realmente inviável. E para um pomar com milhares de plantas, então, nem se fala… 

Solução: Aplicar veneno…formicida. Ôoo derrooota…Naquela época, (1960/70), nem se falava em intoxicações por manuseio de pesticidas. No máximo, desconfiava-se que, aquilo era perigoso!!. Felizmente, meu pai era um daqueles que desconfiavam, e instruiu-me, por pura intuição, aos cuidados necessários para aquelas práticas. Entendi, e atendi prontamente!! 

Durante muitos anos, percorri o pomar com uma bomba manual de formicida em pó, para combater os formigueiros.
Repito, que, somente em 1978, quando vim para a ESAL (UFLA) foi que ouvi pela primeira vez, os primeiros alertas sobre os perigos da contaminação com agrotóxicos e poluição ambiental. 

Para mim, Meio Ambiente era um lugar ocupado pela metade. Ecossistema era um sistema que propiciava ecos sonoros. Bioma era marca de shampoo importado. E Biodiversidade era a corruptela do nome de alguma nova universidade. 

É claro que estou brincando, para denunciar a grande ignorância e o absoluto desprezo de que a sociedade em geral tinha e tem, pelas questões de natureza socioambiental. Importava, como hoje, derrubar, desmatar, queimar, expandir fronteiras agrícolas de qualquer jeito, de qualquer forma. Foi a época dos famosos e criminosos “correntões“. Será que mudou??!! 

Este extrato do Wikipedia é bem informativo: “O correntão é uma técnica de desmatamento controversa que possibilita a rápida retirada da vegetação nativa por meio da utilização de correntes presas a um par de grandes tratores de esteiras. No Brasil, seu uso é considerado crime ambiental por lei. Mas em agosto de 2016, foi autorizada no estado de Mato Grosso através da revogação de um artigo pela Assembleia Legislativa do estado. Acerca do emprego de tal técnica, o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Menezes Evaristo afirmou que: “do ‘correntão’ não se escapa nada, nem fauna, nem árvore”.
Confiram a desgraça dos “correntões”:
https://www.facebook.com/watch/?v=989050314945621

E, por favor, acessem:
Onde estão as flores, as cores, os odores, os saberes e os sabores do cerrado brasileiro? O agro/hidronegócio comeu!“.
https://publicacoes.agb.org.br/index.php/terralivre/article/view/293/276
(Helena Angélica de Mesquita)
Resumo: “Este texto discute o vertiginoso processo de devastação do Cerrado brasileiro, procurando mostrar a questão do ponto de vista dos povos cerradeiros. O Cerrado é o berço das águas das principais bacias hidrográficas da América do Sul. Este bioma está sofrendo vertiginosa destruição. O processo de modernização da agricultura avança sobre as matas ciliares, as veredas e as nascentes, expulsando os camponeses e homogeneizando as paisagens com monoculturas, comprometendo a sua biodiversidade característica. Outro grande risco, hoje, é a expansão do modelo energético, que ameaça seus rios com a construção de barragens para Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). O processo de destruição do Cerrado pelo agronegócio e pelo hidronegócio afeta toda a sociedade, e o campesinato é o segmento social comprometido mais diretamente, pois são homens de lida íntima e direta com a terra, com a qual se relacionam com respeito, Afinal, é a terra seu principal meio de vida, e perdê-la é ser expropriado da cultura, das tradições, do modo de vida e da cidadania, pelo rompimento das teias de relações sociais centenárias”. 

Creio que estas crianças estão conscientes do que está acontecendo:
“Chamam de meio ambiente porque já destruíram a outra metade”.
(Laura, 9 anos). 

“As árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos, as transformamos em papel, para registrar nosso vazio”.(Lorena, 4º primário). 

“Nos campos e nas matas, os animais não poluem; os homens sim!! Por favor, comportem-se como animais”. AD 

E aproveitando a oportunidade, vamos falar um pouquinho de envenenamento por agrotóxicos. Querem limpar a barra, dizendo que são apenas agroquímicos seguros. Simples, né??!! Seguros, uma ova!! 

Por que os agrotóxicos fazem mal para saúde e o consumo só aumenta?
Problemas neurológicos, câncer, desregulação hormonal, contaminação do leite materno e até óbitos são alguns dos males”.
Por Ana Carolina Caldas, Brasil de fato, Curitiba (PR), 22 de Julho de 2019.
“Assim, é possível resumir, que, de um lado há interesse pelo lucro e de outro pela saúde coletiva. Naiara diz que: “a política capitalista é guiada por interesses econômicos e neste modelo pouco se discute se faz mal para coletividade ou causará danos à biodiversidade nacional. O lucro é o interesse. “Facilita para o grande produtor, que, no lugar de roçar a terra, coloca-se glifosato para matar tudo o que tem em volta. Porém, não se calculam os danos à saúde de uma população inteira. ”

Por outro lado, quando mais se aplica o veneno, mais a praga cria resistência. E ele vai perdendo sua eficiência.
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2019/10/07/por-que-a-producao-rural-depende-tanto-de-agrotoxicos.ghtml
“Apesar de toda a parafernália química, a indústria de agrotóxicos jamais conseguiu eliminar uma espécie daninha e diminuir as perdas causadas por ela. Perdas essas, que, continuam as mesmas de 40 anos atrás”, afirma o pesquisador brasileiro e PhD em agronomia Adilson Paschoal, criador do termo “agrotóxico”. Cada vez mais o ingrediente-base do agrotóxico (princípio ativo) acaba tendo que ser misturado a outros para funcionar melhor. Hoje, (2019), 329 são registrados no Brasil. Na União Europeia, são 466 e, nos Estados Unidos, aproximadamente 500″. 

Considerando-se, que, o debate sobre o uso de agrotóxicos e suas consequências socioambientais tem sido amplamente divulgados em toda web.

Considerando-se já abordei a temática sobre desmatamentos e queimadas, na matéria:

Vai recomeçar a temporada anual de queimadas, desmatamentos, destruição e agressões generalizadas ao meio ambiente
https://www.agazetadelavras.com.br/vai-recomecar-a-temporada-anual-de-queimadas-desmatamentos-destruicao-e-agressoes-generalizadas-ao-meio-ambiente/

“Enriquecer o sistema é mais gratificante que explorá-lo”. Ernst Götsch 

Na próxima semana, continuaremos o assunto. Aguardem!!!

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