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II-O primeiro chuveiro a gente jamais esquece

Segunda parte - final

Prezad@s leitor@s, lembro-lhes que a primeira parte terminou assim: 

“Nenhum ferimento, só susto mesmo, e a história de um par de chinelos novinhos que minha mãe perdeu na rua, quando correu espavorida para o consultório do médico, ao ser avisada do acidente”. 

Continuação: 

Na minha casa havia um fogão a lenha comum, com uma eterna e enorme chaleira de ferro na trempe, sempre cheia d’água quentinha, prontinha para fazer café.
Mas quem quisesse tomar um baínho rapidinho de “bacião” (bacia grande de zinco), era só pegar a água da chaleira. Hábito muito comum aos sábados (vixe!!)

A bem da verdade, pensar que o conforto da água quente para lavar o rosto e escovar os dentes, nas manhãs geladas de inverno, só viria com o advento das torneiras elétricas, engana-se fragorosamente.

É que meu pai construiu uma pequena torre móvel de ferro chato em fita, adaptou uma “baciinha” (bacia pequena de zinco) e pronto, era só pegar a água quente na chaleira. Havia até um lugarzinho para a saboneteira, logo abaixo da bacia. Chamávamos o dispositivo de “lavatório“.

Mas, como “o primeiro chuveiro a gente jamais esquece”, um avanço tecnológico doméstico sem precedentes, foi mesmo o chuveiro elétrico que meu pai inventou, e que se constituiu em uma sucateada lata de tinta, com um litro de volume útil, contendo uma resistência elétrica de ebulidor dágua, que ele habilmente adaptou, centralmente, dentro dela.

O aspersor, ele construiu com a tampa da mesma lata, pacientemente cortada e enrolada em forma de cone, e que foi adaptada no centro externo do seu fundo, que já continha a resistência elétrica no centro interno, usando, magistralmente, a solda caseira a estanho.

Os furinhos do aspersor, foram feitos com um preguinho, batido com martelo, um a um, para a água quente se espalhar melhor em nossas cabeças.

E quem pensar que manual de instruções de uso de equipamentos elétricos é novo, “dançou” novamente. Ele redigiu e pregou atrás da porta do banheiro, de tal maneira que tod@s lessem, quando fechassem a porta:

1- Para ligar o chuveiro:
Primeiro. Abrir a torneira até a lata ficar cheia;
Só depois. Ligar a resistência. 

2- Para desligar o chuveiro:
Primeiro. Desligar a resistência;
Só depois. Fechar a torneira. 

Evidentemente, as crianças contavam com o apoio dos adultos, contudo, tod@s que relassem nas partes metálicas do chuveiro artesanal, tomavam choques elétricos, sem dó.
E como, às vezes, a torneira do chuveiro e as áreas umedecidas das paredes do banheiro, davam choques também, anunciados pelo refrão recorrente de qualquer canção vinda de tod@s @s cantor@s eventuais, “on banho”, da família, assim: -Ai… tomei choque!! 

Exemplo:
Tomo um banho de Lua, fico branca como a neve
-Ai, tomei um choque
Se o luar é meu amigo, censurar ninguém se atreve
-Ai, tomei outro choque
É tão bom sonhar contigo, oh! Luar tão cândido
-Ai, tomei mais um choque.

A solução foi um fiozinho de cobre para conectar diretamente a lataria do chuveiro com o cano metálico de abastecimento d’água. Sei lá…Deu certo… Alguma coisa ele fez que deu certo…porque eu me lembro desse fio de cobre…
Atenuante para mim: Já são passados cerca de sessenta a sessenta e três anos.

Contudo, disso me lembro: Após ligar a resistência, dava-se três tapinhas, bem levinhos, rapidinhos, na torneira do chuveiro. Se desse choque, banho de bacia direto, até meu pai chegar e ajustar novamente o fio terra (lixar o cano metálico e apertar os laços do fio de cobre, dos dois lados). 

Informo que esses três tapinhas sutis, foram usados por muitos anos também, pela minha mãe, quando ela queria avaliar a temperatura do “dinossaurico” ferro elétrico de passar roupas da época. 

Os três tapinhas, na base metálica plana de serviço do velho ferro elétrico, eram obrigatoriamente antecedidos de uma também sutil “cuspidinha” no dedo médio da mão direita. O som xssss…da fervura instantânea do cuspe, encantava-me sobremaneira.
Saudades de coisas tão simples….!!! Saudades mãe… 

Mais tarde, como engenheiro mecânico, resolvi nomear esse dedo umedecido com saliva, como precursor de “termostato digital sonoro“, porque ela me dizia que para cada tipo tecido, tinha que ajustar um xsss!! característico, ou seja, uma temperatura adequada para melhor passar a roupa, sem queimá-la.

Neste caso, digital, por causa de “dedo” e não de “dígito” (Ui!! uiuiui!!).
Então era xs! xsss!! xssss!!! até a escala máxima: ai!! desligar, ardeu o dedo!!
Quantos graus Celsius? Sei lá!! não interessava. Cusssp…Xsssss…!!!

Lá no chuveiro, quem se esquecesse das instruções e fechasse a torneira dágua, com a resistência ligada, simplesmente torrava o chuveiro. Punição: banho de bacia até reparar-se o estrago.

Um dia, meu pai chegou em casa com um chuveiro elétrico automático, “moderno”, comprado, sei lá onde!! Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós
Choque elétrico, nunca mais. Contrapartida: Conta da energia lá pra cima, e minha mãe batendo na porta do banheiro, advertindo: -O relógio tá rodandoooo……(Antigo medidor analógico do consumo de energia elétrica residencial).

Chuveiro caseiro relegado ao esquecimento (não meu). Fim da era medieval “banho de bacia“. Porém o lavatório com água quente da chaleira, resistiu um pouco mais e ficou só para lavar o rosto e as mãos (às vezes, os pés). Quando não tivesse ninguém por perto, rapidinho, por último, lavava-se a bunda e as respectivas circunvizinhanças, frente e verso (atrás/a frente), também.

Em seguida, o fogão a gás viria a condenar o fogão à lenha ao esquecimento (não meu), juntamente com a chaleira, o lavatório e as bacias. Então, restariam em seguida, apenas lembranças de tempos que não voltam mais, ou seja, até poderemos escolher escrever sobre:

O guarda-comidas;
O tricô manual e o bolo caseiro de minha mãe;
(No caso do bolo caseiro, há que considerar-se a disputa entre irmãos, para raspar a tigela da massa crua residual, e a recorrente frase dela: -Não comam muito porque tem muito Pó Royal)

Os três remédios da avó Delmira:
_Ventre Livre -ventrilivri;
_Elixir Palegórico -lixirpalegóri;
_Água de Melissa – aguadimilissa;

O radião à válvula e a rádio Mayrink Veiga;
A vitrola de alta fidelidade;
O penico atrás da porta do quarto;
O quarador de roupas no gramado;
Sentar na porta (sentar-se à porta) no fim da tarde.

 Aguardem!!

(Acessem as crônicas anteriores, clicando na franja “Blogs e Colunas“, acima do título da matéria atual. Em seguida, pode-se clicar na franja“Próxima página>“, no rodapé da página aberta, para continuar acessando-se mais crônicas anteriores).

 

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