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O animal atropelado na rodovia

É muito comum, durante alguma viagem por qualquer rodovia intermunicipal deste país, depararmos com animais domésticos ou silvestres, atropelados e mortos.
Carcaças ficam estiradas, expostas e abandonadas pelo caminho. Na conexão Lavras/Ijaci isso é muito comum. Nas estradas vicinais de terra, os atropelamentos também ocorrem com frequência. 

Em rodovias, as zoo vítimas estão esmagadas na própria pista de rolamento ou nos acostamentos laterais. Sempre, é uma visão deprimente. Misturam-se angústia, tristeza, com nojo e asco. Dependendo do tempo de permanência da carcaça esmagada em exposição às intempéries, às vezes, o cheiro de carniça podre é tão ruim, que se torna insuportável. Chega a provocar ânsia de vômito. 

Há muito tempo, tenho olhado este evento acidental, com um olhar diferente do vomitório comumente desencadeado. Tenho crido sinceramente, que existem muitas lições socioambientais de equilíbrio sustentável para a nossa vida física e emocional, apesar deste evento repugnante e tão dantesco. 

Pretendo abordar primeiramente, a lição socioambiental correlata à Agroecologia, e depois, a questão emocional correlata à Psicologia Positiva. Vamos nessa??!!
Gratidão antecipada à Agroecologia e à Psicologia Positiva!! 

Do ponto de vista socioambiental, via Agroecologia, já pensaram se pudéssemos saber a opinião dos animais detritívoros como os urubus, atraídos por esta ocorrência mórbida? Vamos incluir também na inquisição carnificínica, outras aves de rapina, outros animais silvestres carnívoros, como as raposas, lobinhos, ratos etc…

E os vermes, bactérias e micróbios necrófagos decompositores, que diriam??!! Seria… que delícia, que cheirinho atraente, bom apetite??!!
Ops!! Você acabou de ler sobre animais detritívoros e decompositores. Podem agradecer pela novidade, mas, muito mais a eles…

A Bióloga Mariana Araguaia, especialista em Educação Ambiental ensina: “O fato é que os detritívoros, como urubus, minhocas, garças e os besouros “rola-bostas”; ao se alimentarem da matéria morta, além de “limparem o ambiente”, impedindo a proliferação demasiada de formigas, moscas, bactérias e demais organismos com grande potencial de provocar doenças, permitem com que os nutrientes ali contidos sejam reaproveitados. Os decompositores ajudam no aceleramento do processo de degradação da matéria morta, inclusive das excretas dos detritívoros e demais organismos, propiciando a reciclagem de nutrientes, que serão utilizados pelas plantas e pelos demais organismos da cadeia alimentar”. (https://educador.brasilescola.uol.com.br/) 

Vejam só, a natureza ensinando-nos graciosamente, as “Tecnologias Socioambientais Sustentáveis da Agroecologia“, particularmente a Compostagem. Gratidão, detritívoros e decompositores!! 

E complementa a competente Bióloga, da Equipe Brasil Escola: É comum atribuirmos valores a outros seres vivos de acordo com a simpatia (ou não) que eles despertam, e importância direta. No entanto, além de ser uma forma preconceituosa de lidarmos com o que temos à nossa volta, é também simplista, já que se baseia em critérios questionáveis que se focam unicamente na nossa espécie.

Os detritívoros e decompositores são alguns que se apresentam como vítimas desse problema. Os detritívoros porque, geralmente, não são cativados pelas pessoas – basta fazer uma enquete, perguntando qual dos dois animais é mais simpático: urubu ou coala; e os decompositores, porque tendem a ser associados a doenças (bactérias), ou mesmo a seres completamente estáticos, de função basicamente decorativa, nos ambientes (fungos). Assim, pouco se fala sobre a sua importância”.

Ops!! Com licença. Na Agroecologia, os detritívoros e os decompositores são considerados PhD, honoris-causa na universidade da natureza. É só pensar se eles não existissem!! 

E, qual a lição final que fica? Detritívoros e decompositores também são criações divinas, tão adoráveis como aqueles animaizinhos que achamos muito lindinhos e que queremos pegar no colo, beijar e colocá-los em nossa cama!! Enfim, adotar como filhinhos extras…

Respeitem os detritívoros e decompositores, ou aguentem as carniças. Duvido que alguém vai parar o carro, recolher o bicho atropelado em decomposição, colocá-lo no bagageiro e preparar-lhe uma destinação asseada!! 

E agora, conforme anunciado anteriormente, a abordagem do ponto de vista emocional, via Psicologia Positiva.

Começarei pelo cheiro da carniça podre. Quem gosta? Quem aguenta?
Quando a carcaça do animal atropelado está em adiantado estado de decomposição e os detritívoros e decompositores ainda não deram conta de consumir a massa putrefacta restante, o cheiro horroroso se espalha e impregna nossas narinas, quando o veículo passa perto, ou mesmo a certa distância. 

Aquele forte odor penetra na cabine do veículo, os passageiros quase vomitam. Arghhh…que fedor…!!
E se os vidros estiverem abaixados e o ar condicionado desligado? Meu Deus, é o caos…rápido, rápido, fechem os vidros!! Liguem o ar!! Vamos, vamos…não tô aguentando!! 

Felizmente, após alguns metros, com o movimento contínuo do veículo para frente, o cheiro vai se dissipando, até sumir completamente.
Não é preciso fazer nada de especial, apenas continuar avançando, não parar, não estacionar. É só a viagem prosseguir normalmente.

Se na viagem de volta, tivermos que passar pelo mesmo local, instintivamente e bem antes, vamos subindo os vidros, ligando o ar e passando ligeirinho, sem olhar para os lados, e muito menos para trás. 

Creio que durante essa fascinante viagem chamada vida, muitas vezes somos atingidos por eventos mal cheirosos, cujos odores fétidos característicos são perfeitamente identificados.

A fofoca, a futrica, o ti-ti-ti, o diz-que-me-diz, a falsidade, a mentira, o engodo, a desonestidade, a ingratidão, o golpe sujo etc. Todos têm cheiro nojento próprio e impregnam o ambiente virtual asquerosamente. E como fedem. Vixe!!! 

Quais carniças dão origem à essa fedentina??!!
-O mal caráter, a falta de educação, a inveja, o despeito, a ganância, a pobreza de espírito, o ódio, o racismo, a maldade inata etc… 

Houve algum atropelamento que originou a carniça?? Ou melhor, houve algo de bom atropelado, cuja morte provocou a transformação em carniça podre??!!
-Sim, a inocência!!!! 

Mas, quem atropelou a inocência??!!
-Foi e tem sido, uma grande camarilha emocional de pseudos sábios formada por pais, avós, parentes, amigos, vizinhos, professores, educadores, sacerdotes, religiosos, conselheiros, governantes…
Nightwish, escreveu: “É o fim de toda a esperança. Perder a criança, a fé. Acabar com toda a inocência. Ser alguém como eu”. 

Existem detritívoros e decompositores emocionais equivalentes, que possam compostar a carniça interior podre e fedorenta, e transformá-la em adubo natural puro, para alimentar a alma, sem prejudicar a inocência, novamente??!!

-Sim, a transformação interior, que é individual e não pode e nem deve ser entrouxada nas outras pessoas, goela abaixo!! Mas, é preciso muita coragem para querer nascer de novo.

Creio que a reforma interior, se encaixaria na sugestão de W. R. Bion: “…às raspagens e lixações da memória, na esperança de encontrar, para além do que sabemos, a sabedoria que ignoramos…”. 

Sobre a coragem necessária, Guimarães Rosa escreveu: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem!”. 

E, sobre nascer de novo, alguém muito especial já ensinava há mais de dois mil anos: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não poderá ver o reino de Deus”. 

Modestamente, resumo isso tudo: “Romper com o passado (carniça podre), nascer de novo (agorinha mesmo), ser nova criatura (inocência restaurada)”.

Mas teremos de buscar a auto transformação interior corajosamente, e não buscar covardemente a transformação das outras pessoas.
“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente  você estará fazendo o impossível” São Francisco de Assis.
Assim , a viagem segue, o fedor desaparece e a vida continua para ser melhor vivida…

Vejam que lindo, o que Alberto Caeiro propôs: “Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal humano que a natureza produziu. Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!), isso exige um estudo profundo, uma aprendizagem de desaprender…”. 

E Paulo Freire:
“Gosto de ser gente, porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele.”

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