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Simplesmente Mané

Conheci o Mané em 1980, em conexão com meu sítio em Ijaci/MG.
Na época, o Mané me procurou e me perguntou se poderia pegar lenha no mato do “Córgo da Maricota” (matinha ciliar que margeia o córrego que atravessa o meu sítio em Ijaci/MG). 

Já nesse tempo, preocupava-me com as questões socioambientais.
Adverti ao Mané que se fosse para pegar lenha seca, tudo bem!!! mas cortar lenha, nem pensar.
E liberei!! 

Revejam:
“Amém ECOTEOLOGIA. Seja bem-vinda!!”
https://www.agazetadelavras.com.br/amem-ecoteologia-seja-bem-vinda/ 

Ele cumpriu, rigorosamente, nosso trato. Ficamos amigos.
Chamou-me a atenção, também, o biotipo do Mané: albino, magrinho, olhos que pareciam sempre fechados, cabelos ruivos, fala nasal mansa e educada, andar bem lento e gestos comedidos. 

Ele sempre aparecia por aquelas bandas, e eu gostava da presença dele, porque meu pai havia me ensinado que algumas pessoas “trazem boas influências” e devemos conservá-las próximas. Mas as que “trazem má influência” deveriam ser mantidas distantes, na medida do possível. 

O Mané trazia ótima influência e sua simplicidade e humildade, simplesmente encantava-me.
Curioso é que ele sempre estava bem arrumadinho e refletia muito asseio pessoal. 

Um dia, ele quase me derrubou de surpresa, ao pedir-me que guardasse as suas economias na minha caderneta de poupança.
Ele me explicou que como “não tinha leitura“, tinha vergonha de ir a um banco abrir uma poupança. 

E, como se não bastasse, puxou do bolso da calça, um saquinho plástico com dinheiro dentro, bem amassadinho.
Como rejeitar tamanho gesto de confiança??!!
Contamos o dinheiro e deu o que equivaleria hoje, a uns cem reais (isso mesmo, uns cem reais, hoje!!). 

Para que ele não se decepcionasse, expliquei como funcionava a poupança.
Falei sobre os juros e correção monetária e os trinta dias mínimos, para render. Preparei-o para entender que os tais juros e a correção monetária eram proporcionais às quantias depositadas. Portanto ele não deveria esperar muito. 

E aí veio a segunda surpresa. Ele disse:
-Se render uns jurinhos, tá bom!!!
Meu Deus!! Que pureza de alma!! Que inocência!! Que pessoa genuína!!

No dia seguinte, depositei o dinheiro e marquei a data do depósito, para prestar contas, mesmo sabendo que renderia uma “merreca“. 

Mas, uns vinte e cinco dias após esse evento, ele apareceu lá no sítio e veio a terceira surpresa.
-Sô Gil, eu preciso do dinheiro. O Sr. pode retirar tudo e me entregar, nem que eu perca um pouco dos juros!! 

E agora? Como faço para explicar para ele que antes dos trinta dias, não teria direito nem a “merrequinha” dos juros que ele teria direito em trinta dias??!!
Solução: No dia seguinte, entreguei para ele, o que equivaleria hoje a uns cento e vinte reais, e ele ficou numa felicidade sem conta. 

Creio que foi o melhor investimento da história das cadernetas de poupanças ao redor do mundo, em todos os tempos, desde os faraós no Egito. Afinal, vinte por cento de juros e correção monetária, em vinte e cinco dias de aplicação!! Que investimento!! heim??!! 

Ele nunca mais pediu para guardar dinheiro, e eu fiquei feliz com meu gesto, só revelado agora, quarenta e dois anos depois do fato. 

Mas não foi só isso que foi marcante.
Aconteceu que o Mané desapareceu por uns tempos. 

Quando voltou, anunciou:
-Sô Gil, agora sou crente. Converti!! Agora sou membro de uma igreja pentecostal.
Para mim, tudo bem, afinal, as pessoas devem ser o que elas quiserem ser. Direito de escolha é liberdade pessoal fundamental. 

E não é que o Mané viria a se revelar como incrível pregador do Evangelho!! Fiquei tão impressionado, que muitas vezes, a meu pedido, sentávamos-nos à agradável sombra de uma amoreira nativa que tenho no sítio, só para eu ouvir o Mané falar do reino de Deus e de sua justiça. 

Confesso que já ouvi dezenas de pregadores, alguns com PhD em Teologia, mas como o Mané, nunca, jamais!!!
E mais. O Mané continuava “sem leitura”, porém revelou ter uma memória auditiva impressionante. 

Percebi que ele ouvia todos os programas gospel de rádio e televisão que poderia ouvir e assistir durante a semana, e gravava mentalmente todas as pregações, e depois, as reproduzia a seu modo. E que unção abençoada…!!
“Eu te louvo, Pai, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”.    (Mt 11×25).

Creio que aqui, posso incluir também:
“Uma funcionária chamada Neuza”
https://www.agazetadelavras.com.br/uma-funcionaria-chamada-neuza/

 

Atualmente, embora tenha perdido contato com ele, eu repito com toda convicção:
Gratidão oh!! Senhor, por ter permitido conhecer o Mané e principalmente poder ter ouvido as suas pregações.
Imensa gratidão!!! ao simplesmente, Mané!! 

E no próximo post, continuarei escrevendo sobre mais gente simples, que encantaram minha vida.
Vem aíAs irmãs Toca e Tonha“.

Aguardem!!! 

(Acessem as crônicas anteriores, clicando na franja “Blogs e Colunas“, acima do título da matéria atual. Em seguida, pode-se clicar na franja“Próxima página>“, no rodapé da página aberta, para continuar acessando-se mais crônicas anteriores).

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